2009/06/15

O TEATRO, A PLATEIA E A CULTURA

Antônio Marcelo estava perdendo as forças. Sem motivação para continuar. A mortificação do artista? Toda pessoa que vinha para um espetáculo já vinha derrotada. " No entanto ter sobrevivido até aqui foi um esforço meu. É preciso reconhecer isso. Ao invés do Grupo amadurecer, cada peça significava um "começar de novo". E isso não é bom, não nessa visão da coisa continuada."
Tentou-se a montagem da "EMOÇÃO DO PECADO", mas tudo nao passou de leitura. O elenco não queria, rejeitava a peça. Mas não disse isso antes de iniciar. So quando ja se estava no processo. Quando Antonio Marcelo pediu aos integrantes que cuidassem do Grupo, ele já sentia a perca de suas forças. E sugeriu que um escrevesse, outro dirigisse, um outro poderia produzir.. O primeiro texto apresentado foi de Alexandre Lima, um aspirante a escritor preguiçoso, sem carpintaria teatral. Isso é falado porque se sabe que todo aspirante tem vontade, é curioso, mas ele não."As pessoas pensam que tudo é fácil, lá fora. Mas não se trata disso. O que ocorre é que as pessoas não ficam na janela vendo o sonho passar. Elas batalham. E sobre isso, pode ser dito que Antonio Marcelo teve força. Mas como ele definiu que era um peso carregar gente morta. Mas onde encontrar gente para o teatro? Onde encontrar pessoas que soubessem arregaçar as mangas." O próprio Balaio, disse Antonio Marcelo, sobrevive pelo esforço de alguns. Mas não é um Grupo onde todos tem o mesmo compromisso. "Na prática a gente ver as coisas como são. No sul maravilha, ator viaja de ônibus três horas para chegar a um teatro. Em fortaleza, os artistas não querem viajar 40 minutos. tudo é muito longe, o grupo é pobre. O atorzinho para justificar suas limitações, sua incapacidade e seu poder nada criativo, quer a todo momento mudar a cena, o texto, a marcação. E tudo isso vai deixando o teatro, o artista indigente. Culturalmente fiz só o que pude fazer, foi pouco, reconheço. Mas me comparando com aqueles que tiveram e tem dinheiro, maquina a seu interesse, eu fiz muito. A imprensa, eu só tenho a agradecer, meus espetaculos sempre foram divulgados. Não reclamo dela. Reclamo mesmo do artista mediocre, do público que só entende o que é dito no shou de humor. E quando as piadas sao antingas, porque piada desconhecida, ele pode nao entender. Estamos em 2009. Os artistas, que vem do sul maravilha pra cá, não podem reclamar de casa vazia. Mas eles levam uma má impressao horrível da falta de compostura cultural. A Vera Fischer deixa isso claro, em sua biografia. Ela disse que o teatro apesar de todo a sua bela estrutura é um teatro abandonado. que a plateia nao está interessada em cultura, que o fator externo atrapalha o desenvolvimento do ator. E segundo a Vera, Flavio Rangel disse que toda companhia que se presa passa longe desse teatro. E eles nao deixam de ter razao. A quela praça em frente é um horror, uma decadencia. aquele povo deveria sair da praça, mas quando se pensou nessa possibilidade a classe artistica cearense foi contra. Talvez a classe esteja equivoca entre o que é cultura e o que é mazela cultural. Ou eu posso estar errado. A vera Fischer escreveu isso, e os artistas cearenses nao se atenam para essas coisas, porque isso repercute, e deveria ser merecedor de reflexão. Os 99 anos do Teatro é celebrado com mediocridade. A classe artista acha isso, pensa isso, mas nao tem coragem de dizer. É mais fácil ser como o João Ubaldo Ribeiro que disse uma vez que nao ler nada de ninguem, bate no ombro fingindo que leu e diz: - beleza. Nesse periodo de pausa, ou derrota teatral, se assim acharem conveniente, eu tenho pensando nisso. Pensado muito sobre nossa posição cultural. Sobre quem sabe e sobre quem nao sabe. E o Teatro Cearense continua... agonizando? Tenho sentido falta de um brilho que há muito nao vejo. O teatro me traz muitas coisas boas, me faz pensar, me torna inteligente. E a certeza tambem que nao faço parte do primeiro time. Mas faço parte. kkk.... Lembro que Tonia Carrero, estava em cartaz aqui, e uma mulher na plateia, atendeu um celular... e dizia em um tom falso baixo: - " ME ESQUECI O NOME DELA, ELA É AQUELA ATRIZ DA GLOBO. NÃO ME LEMBRO AGORA O NOME DELA. É BEM BOAZINHA A PEÇA. MAS EU NAO RI AINDA NENHUMA VEZ." A plateia nao sabe onde é para sorrir, para rir, gargalhar ou mesmo fica anestesiada. A minha victória Capuleto, na época tão recebida à preconceito por alguns, me remete hoje Dona Beija, que é reprisada no SBT. Asssiti a novela, que na época era um escândalo. Hoje quem assiste se tiver sensibilidade vê uma novela que é uma obra de arte. Uma novela completamente envolvida com a beleza, com brilho. Linda. Mas assistir hoje nao tem apelo, repito, para os insensiveis. E bem depois de Victória Capuleto, tenho visto a plateia Cearense aplaudir lixo, e dizer magnifico. Mas em silêncio, eu sorrio, eu snobo, porque sei que entre o valor e a ilusão contemporanea do eu e de ela saber, eu fico com a minha percepção. Há um preconceito sim, com o que eu apresentei em alguns momentos. Enquanto autor, eu posso ter ferido a auto estima de quem se acha a cocada. E eu escrevo como quem chora, porque sinto. nao sei me sentar em um computador, mapeando peça. Sei me sentar e escrever. Depois do meu silêncio, eu digo isso. Depois de ter que dá uma pausa, por necessidade, eu volto." - disse Antonio Marcelo.